segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A visão lúcida do Papa Francisco sobre a Religião e a Bíblia



   Algumas colocações muito lúcidas, considerada pelos reacionários e conservadores como "polêmicas", do Papa Francisco nos dão esperança de que a atual mediocridade em que cairam as religioes, muitas retornando ao fundamentalismo literal, pode ser superada por uma visão mais equilibrada da humanidade e de Deus....

  As colocações  de Francisco, a seguir, foram extraídas do site espanhol "Mundohistória":


”Por meio da humildade , da introspecção e contemplação orante temos adquirido uma nova compreensão de certos dogmas . A igreja já não acredita em um inferno literal , onde as pessoas sofrem . Esta doutrina é incompatível com o amor infinito de Deus. Deus não é um juiz , mas um amigo e um amante da humanidade. Deus nos procura não para condenar, mas para abraçar . Como a história de Adão e Eva , nós vemos o inferno como um artifício literário . O inferno é só uma metáfora da alma exilada (ou isolada), que, como todas as almas em última análise, estão unidos no amor com Deus"

    Em outra parte, afirma Francisco que:

”Todas as religiões são verdadeira , porque elas são sempre verdadeiras dentro dos corações de todos aqueles que nelas acreditam. Que outro tipo de verdade existe ali? No passado , a igreja foi muito dura com quem considerava imoral ou pecaminoso. Hoje eles já não são julgados dessa maneira . Como um pai amoroso, não condenemos a nossos filhos. Nossa igreja é grande o suficiente para eceber heterossexuais e homossexuais , para os que são pró-vida e pró- escolha! Para os conservadores e liberais , até mesmo os comunistas, todos são bem-vindos e se juntaram a nós . Todos nós amamos e adoramos o mesmo Deus."


 O espírito renovador de Francisco, muito concorde com o do Concílio Vaticano II de João XIII, fica mais claro na seguinte afirmação sobre a Igreja que ele pretende fortalecer:

“Um religião moderna e razoável, que que vem tendo mudanãs evolutivas. É chegado a hora de abandonar  toda intolerância. Devemos reconhecer que a verdade religiosa evolui e muda. A verdade percebida não é absoluta ou gravada em pedra. Incluso os ates reconhecem o divino. A través de atos reais de amor e caridade o ateu reconhece a Deus como bom e redime sua alma, convertendo-o em um participante ativo na transformação e redenção da humanidade".
  Uma outra colocação progressista que vem deixando os reacionários e outra-conservadoras (católicos, protestantes e neoliberais) de cabelos em pé é a seguinte:

“Nossa percepção de Dios está cambiando e evoluindo, como somos, porque Deus vive em nós e em nossos corações. Quando difundimos o amor e a bondade no mundo, tocamos em nossa  própria divindade mase a reconhecemos. A Biblia é un formoso livro sagrado, a como todas as grandes e antigas obras, algumas passagens são antiquadas. Algumas até mesmo chamam para a intolerância o o julgamento. Há chegado o momento de ver eses versos como interpolações humanas posteriores e que são contra a mensagem de amor e de verdade, que irradia de outra maneira a través das Escrituras."


domingo, 26 de janeiro de 2014

Argumentos para que se tenha sim a Copa do Mundo aqui no Brasil


Argumentos para enfrentar coxinhas e leitores de extremistas como Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino e o Astrólogo Olavo de Carvalho


Sim, a Fifa exige muito mais do que o razoável, mas muito mais irracional tem sido o festival de bobagens ditas sem reflexão, mas movido por colocações rasas de cunho eleitoreiro, sobre a Copa, que deveria ser entendida mais como investimento que como fundo perdido. Na verdade, o que tem estado por trás de movimentos como "Não vai ter Copa" é bem menos visíel, mas mais atuante, que as argumentações por tantas vezes pífia que pretensos "esclarecidos" tem usado - a maior parte das manifestações ocorrem em São Paulo, com grande influencia dos bancos, da mídia comprometida e, claro, do PSDB.

Vejamos aqui dois textos sobre o tema, um na forma de parábola, escrito pelo psicólogo Hugo Lapa, e outro, u artigo do jornalista e comentarista político Antonio Lassance:


PROTESTO CONTRA A COPA
Um adolescente de 16 anos chega para a sua mãe e diz:
- Mãe, estou indo no protesto contra a Copa, ta?
A mãe apenas olhou para o filho e disse:
- Filho, você já arrumou seu quarto?
O rapaz ficou ansioso, pois queria ir logo ao protesto, e disse:
- Não mãe, depois eu arrumo…
- Mas filho, você sempre deixa seu quarto desarrumado, sua louça para eu lavar, e sua lição de casa sem fazer, e sempre diz que vai “fazer tudo depois”. Como você pode desejar transformar sua realidade social se nem mesmo sua casa você me ajuda a manter em ordem?
O rapaz ficou irritado com os apontamentos da mãe e disse:
- Mãe, por favor, para com esse sermão de velho. É muito mais importante lutar pelo nosso país.
- Talvez sim, concordou a mãe, – Mas primeiro é necessário iniciar pelas coisas mais básicas. Temos que ser o exemplo de vida que desejamos semear pelo mundo. Aliás, você sabe ao menos o porquê está protestando contra a Copa?
O rapaz ficou ainda mais irritado, e disse:
- Pô mãe!!! Isso é óbvio!!! Você não viu essa quantidade de dinheiro gasto nos estádios? Isso é absurdo! O governo federal tinha que investir esse dinheiro em saúde e educação, e não em estádios!
- Concordo com você, disse a mãe. Aliás, já que você valoriza tanto a educação, por que esse ano está tirando notas tão baixas na escola?
O rapaz ficou sem graça e sem saber o que responder
.
- Se você realmente quer lutar pela educação, deveria iniciar pela sua própria. Estude, pesquise, tenha uma boa formação. Não adianta exigir do governo o que você mesmo não faz. Aliás, você pesquisou sobre os gastos na Copa? Verificou de onde vem esse dinheiro e se o Brasil vai lucrar com isso? Não adianta ficar se informando apenas nas redes sociais onde tem muitas informações falsas, como bolsa prostituta de 2000 reais, Suzane Richthofen como presidente da Comissão de Seguridade Social e Família, e outras farsas. É bom pesquisar em fontes sérias. Depois de estar munido de todas as informações possíveis sobre um tema, aí vá protestar contra. Protesto pelo protesto, sem informações e sem uma pauta bem definida é perda de tempo. Ao menos saiba contra o que você está se manifestando. Aliás, você que adora pular carnaval, você sabia que nos últimos anos o Brasil gastou mais de 5 bilhões de reais de dinheiro público na realização do carnaval? Você vai se manifestar contra o carnaval também, ou vai ser mais uma pessoa com o terrível vício da “indignação seletiva”?
O rapaz ficou assustado com as declarações da mãe. Não sabia que o carnaval gastava tanto dinheiro público. Ele disse:
- Mas mãe, você sabe que não luto apenas a favor da educação e contra a Copa. Luto também pelos animais…
A mãe continuou:
- Muito bem. Conte-me então como você luta pelos animais comprando duas araras no mercado ilegal de animais silvestres e trazendo aqui pra casa sem a minha autorização? Você tem conhecimento de todo o sofrimento que esses animais passam até chegarem aqui? Eles são retirados da natureza, que é sua casa, para servir aos caprichos dos seres humanos. Assim são também os canários, e muitos outros passarinhos que foram feitos para voar e que você insiste em manter nessa jaula. Aliás, nosso cachorro de raça, que você quase brigou comigo para comprá-lo num pet shop, graças a mim que cuido dele está sendo bem tratado, mas e quanto aos milhões de animais jogados na rua e esquecidos? Não seria melhor ter adotado um ao invés de comprado? Você acha que amigo se compra? E quanto ao seu costume de comer carne? Um defensor dos animais como você pode proteger uns e matar devorando outros? Aliás, isso sem mencionar que o shampoo que você usa foi testado em animais, sabia? Você nem se deu o trabalho de pesquisar outros artigos de higiene que não foram testados em animais, causando muito sofrimento aos bichinhos.
O rapaz ficou sem fala com essa argumentação tão incisiva da mãe. Ele disse:
- Mas mãe, não se pode fazer tudo também. Não sou perfeito.
- Claro filho, todos nós temos erros, mas se tem uma coisa que a vida me ensinou nesses quase 60 anos é que não podemos exigir dos outros aquilo que não praticamos em nossa vida cotidiana. É necessário começar por você… 
- Bom, mas eu também luto contra a corrupção, disse o rapaz. – E sou uma pessoa honesta! 
- De fato… respondeu a mãe. – No entanto, vamos lembrar daquela vez que você pichou várias casas de outras pessoas, obrigando-as a gastar um dinheiro que algumas delas sequer tinham para pintar novamente suas residências. Vamos lembrar também daquela vez em que você depredou sua escola junto com seus amigos, obrigando o governo a gastar consertando tudo com seu ato de vandalismo. Não podemos esquecer também da ocasião em que o vendedor te deu um valor a mais no troco, e você não devolveu o dinheiro, embolsando tudo para você. Aliás, o que me diz dos DVDs piratas que você comprou? Isso não é uma forma de ilegalidade, de corrupção? Trata-se apenas de uma corrupção de menor envergadura, mas continua sendo corrupção. E quando você bebeu e dirigiu no outro dia, sendo que você nem tem carteira de habilitação, colocando a vida dos outros em risco? Que tal nos reportarmos também aquele episódio em que você e seus amigos ficaram colocando som alto na rua, o que é ilegal, e atrapalhando o sono de muitos pessoas, inclusive de nossa vizinha, que é uma senhora que precisa de cuidados médicos e deveria ter sossego durante a noite? Não vamos esquecer também do dia em que você parou naquela vaga de deficientes. Você acha que essas atitudes são dignas de uma pessoa honesta? 
O rapaz ficou mudo. Simplesmente não tinha mais o que dizer diante disso tudo. A mãe finalizou dizendo: 
- Agora, meu filho, vá para o seu quarto e o arrume antes de sair. Lave a louça que você deixou para eu lavar e vá ler os dois livros que a professora mandou você ler. Passe a estudar e a respeitar as pessoas, tornando-se uma pessoa de bem. Não se esqueça jamais de pesquisar, ler, se informar antes de protestar. Seja uma pessoa instruída antes de qualquer coisa. Entenda bem antes os problemas do seu país e depois vá tentar conserta-los. E, principalmente, lembre-se de Gandhi quando disse: “Seja você mesmo a mudança que deseja ver no mundo”. 
O rapaz foi então lavar a sua louça, arrumou seu quarto, pegou o livro, e começou a ler…

Vai ter Copa: argumentos para enfrentar quem torce contra o Brasil

Vai ter Copa: argumentos para enfrentar quem torce contra o Brasil

Como a desinformação alimenta o festival de besteiras ditas contra a Copa do Mundo de Futebol no Brasil.

Antonio Lassance

Fonte: Carta Maior

Profetas do pânico: os gupos que patrocinam a campanha anticopa

Existe uma campanha orquestrada contra a Copa do Mundo no Brasil. A torcida para que as coisas deem errado é pequena, mas é barulhenta e até agora tem sido muito bem sucedida em queimar o filme do evento.

Tiveram, para isso, uma mãozinha de alguns governos, como o do estado do Paraná e da prefeitura de Curitiba, que deram o pior de todos exemplos ao abandonarem seus compromissos com as obras da Arena da Baixada, praticamente comprometida como sede.

A arrogância e o elitismo dos cartolas da Fifa também ajudaram. Aliás, a velha palavra “cartola” permanece a mais perfeita designação da arrogância e do elitismo de muitos dirigentes de futebol do mundo inteiro.

Mas a campanha anticopa não seria nada sem o bombardeio de informação podre patrocinado pelos profetas do pânico.

O objetivo desses falsos profetas não é prever nada, mas incendiar a opinião pública contra tudo e contra todos, inclusive contra o bom senso.

Afinal, nada melhor do que o pânico para se assassinar o bom senso.

Como conseguiram azedar o clima da Copa do Mundo no Brasil

O grande problema é quando os profetas do pânico levam consigo muita gente que não é nem virulenta, nem violenta, mas que acaba entrando no clima de replicar desinformações, disseminar raiva e ódio e incutir, em si mesmas, a descrença sobre a capacidade do Brasil de dar conta do recado.

Isso azedou o clima. Pela primeira vez em todas as copas, a principal preocupação do brasileiro não é se a nossa seleção irá ganhar ou perder a competição.

A campanha anticopa foi tão forte e, reconheçamos, tão eficiente que provocou algo estranho. Um clima esquisito se alastrou e, justo quando a Copa é no Brasil, até agora não apareceu aquela sensação que, por aqui, sempre foi equivalente à do Carnaval.

Se depender desses Panicopas (os profetas do pânico na Copa), essa será a mais triste de todas as copas.

“Hello!”: já fizemos uma copa antes

Até hoje, os países que recebem uma Copa tornam-se, por um ano, os maiores entusiastas do evento. Foi assim, inclusive, no Brasil, em 1950. Sediamos o mundial com muito menos condições do que temos agora.

Aquela Copa nos deixou três grandes legados. O primeiro foi o Maracanã, o maior estádio do mundo – que só ficou pronto faltando poucos dias para o início dos jogos.

O segundo, graças à derrota para o Uruguai (“El Maracanazo”), foi o eterno medo que muitos brasileiros têm de que as coisas saiam errado no final e de o Brasil dar vexame diante do mundo - o que Nélson Rodrigues apelidou de “complexo de vira-latas”,  a ideia de que o brasileiro nasceu para perder, para errar, para sofrer.

O terceiro legado, inestimável, foi a associação cada vez mais profunda entre o futebol e a imagem do país. O futebol continua sendo o principal cartão de visitas do Brasil – imbatível nesse aspecto.

O cartunista Henfil, quando foi à China, em 1977, foi recebido com sorrisos no rosto e com a única palavra que os chineses sabiam do Português: “Pelé” (está no livro “Henfil na China”, de 1978).

O valor dessa imagem para o Brasil, se for calculada em campanhas publicitárias para se gerar o mesmo efeito, vale uma centena de Maracanãs. 

Desinformação #1: o dinheiro da Copa vai ser gasto em estádios e em jogos de futebol, e isso não é importante

O pior sobre a Copa é a desinformação. É da desinformação que se alimenta o festival de besteiras que são ditas contra a Copa.

Não conheço uma única pessoa que fale dos gastos da Copa e saiba dizer quanto isso custará para o Brasil. Ou, pelo menos, quanto custarão só os estádios. Ou que tenha visto uma planilha de gastos da copa.

A “Copa” vai consumir quase 26 bilhões de reais.

A construção de estádios (8 bi) é cerca de 30% desse valor.

Cerca de 70% dos gastos da Copa não são em estádios, mas em infraestrutura, serviços e formação de mão de obra.

Os gastos com mobilidade urbana praticamente empatam com o dos estádios.

O gastos em aeroportos (6,7 bi), somados ao que será investido pela iniciativa privada (2,8 bi até 2014) é maior que o gasto com estádios.

O ministério que teve o maior crescimento do volume de recursos, de 2012 para 2013, não foi o dos Esportes (que cuida da Copa), mas sim a Secretaria da Aviação Civil (que cuida de aeroportos).

Quase 2 bi serão gastos em segurança pública, formação de mão de obra e outros serviços.

Ou seja, o maior gasto da Copa não é em estádios. Quem acha o contrário está desinformado e, provavelmente, desinformando outras pessoas.

Desinformação #2: se deu mais atenção à Copa do que a questões mais importantes

Os atrasos nas obras pelo menos serviram para mostrar que a organização do evento não está isenta de problemas que afetam também outras áreas. De todo modo, não dá para se dizer que a organização da Copa teve mais colher de chá que outras áreas. 

Certamente, os recursos a serem gastos em estádios seriam úteis a outras áreas. Mas se os problemas do Brasil pudessem ser resolvidos com 8 bi, já teriam sido.

Em 2013, os recursos destinados à educação e à saúde cresceram. Em 2014, vão crescer de novo. 

Portanto, o Brasil não irá gastar menos com saúde e educação por causa da Copa. Ao contrário, vai gastar mais. Não por causa da Copa, mas independentemente dela.

No que se refere à segurança pública, também haverá mais recursos para a área. Aqui, uma das razões é, sim, a Copa.

Dados como esses estão disponíveis na proposta orçamentária enviada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso (nas referências ao final está indicado onde encontrar mais detalhes).  

Se alguém quiser ajudar de verdade a melhorar a saúde e a educação do país, ao invés de protestar contra a Copa, o alvo certo é lutar pela aprovação do Plano Nacional de Educação, pelo cumprimento do piso salarial nacional dos professores, pela fixação de percentuais mais elevados e progressivos de financiamento público para a saúde e pela regulação mais firme sobre os planos de saúde.

Se quiserem lutar contra a corrupção, sugiro protestos em frente às instâncias do Poder Judiciário, que andam deixando prescrever crimes sem o devido julgamento, e rolezinhos diante das sedes do Ministério Público em alguns estados, que andam com as gavetas cheias de processos, sem dar a eles qualquer andamento.

Marchar em frente aos estádios, quebrar orelhões públicos e pichar veículos em concessionárias não tem nada a ver com lutar pela saúde e pela educação.

Os estádios, que foram malhados como Judas e tratados como ícones do desperdício, geraram, até a Copa das Confederações, 24,5 mil empregos diretos. Alto lá quando alguém falar que isso não é importante.

Será que o raciocínio contra os estádios vale para a também para a Praça da Apoteose e para todos os monumentos de Niemeyer? Vale para a estátua do Cristo Redentor? Vale para as igrejas de Ouro Preto e Mariana? 

Havia coisas mais importantes a serem feitas no Brasil, antes desses monumentos extraordinários. Mas o que não foi feito de importante deixou de ser feito porque construíram o bondinho do Pão-de-Açúcar? 

Até mesmo para o futebol, o jogo e o estádio são, para dizer a verdade, um detalhe menos importante. No fundo, estádios e jogos são apenas formas para se juntar as pessoas. Isso sim é muito importante. Mais do que alguns imaginam. 

Desinformação #3: O Brasil não está preparado para sediar o mundial e vai passar vexame

Se o Brasil deu conta da Copa do Mundo em 1950, por que não daria conta agora? 

Se realizou a Copa das Confederações no ano passado, por que não daria conta da Copa do Mundo? 

Se recebeu muito mais gente na Jornada Mundial da Juventude, em uma só cidade, porque teria dificuldades para receber um evento com menos turistas, e espalhados em mais de uma cidade?

O Brasil não vai dar vexame, quando o assunto for segurança, nem diante da Alemanha, que se viu rendida quando dos atentados terroristas em Munique, nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972; nem diante dos Estados Unidos, que sofreu atentados na Maratona Internacional de Boston, no ano passado.

O Brasil não vai dar vexame diante da Itália, quando o assunto for a maneira como tratamos estrangeiros, sejam eles europeus, americanos ou africanos.

O Brasil não vai dar vexame diante da Inglaterra e da França, quando o assunto for racismo no futebol. Ninguém vai jogar bananas para nenhum jogador, a não ser que haja um Panicopa no meio da torcida. 

O Brasil não vai dar vexame diante da Rússia, quando o assunto for respeito à diversidade e combate à homofobia.

O Brasil não vai dar vexame diante de ninguém quando o assunto for manifestações populares, desde que os governadores de cada estado convençam seus comandantes da PM a usarem a inteligência antes do spray de pimenta e a evitar a farra das balas de borracha.

Podem ocorrer problemas? Podem. Certamente ocorrerão. Eles ocorrem todos os dias. Por que na Copa seria diferente? A grande questão não é se haverá problemas. É de que forma nós, brasileiros, iremos lidar com tais problemas.

Desinformação #4: os turistas estrangeiros estão com medo de vir ao Brasil 

De tanto medo do Brasil, o turismo para o Brasil cresceu 5,6% em 2013, acima da média mundial. Foi um recorde histórico (a última maior marca havia sido em 2005).

Recebemos mais de 6 milhões de estrangeiros. Em 2014, só a Copa deve trazer meio milhão de pessoas. 

De quebra, o Brasil ainda foi colocado em primeiro lugar entre os melhores países para se visitar em 2014, conforme o prestigiado guia turístico Lonely Planet (“Best in Travel 2014”, citado nas referências ao final).

Adivinhe qual uma das principais razões para a sugestão? Pois é, a Copa.


Desinformação #5: a Copa é uma forma de enganar o povo e desviá-lo de seus reais problemas

O Brasil tem de problemas que não foram causados e nem serão resolvidos pela Copa.

O Brasil tem futebol sem precisar, para isso, fazer uma copa do mundo. E a maioria assiste aos jogos da seleção sem ir a estádios. 

Quem quiser torcer contra o Brasil que torça. Há quem não goste de futebol, é um direito a ser respeitado. Mas daí querer dar ares de “visão crítica” é piada.

Desinformação #6: muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, o que é um grave problema

É verdade, muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, mas isso não é um grave problema. Tem até um nome: chama-se “legado”.

Mas, além do legado em infraestrutura para o país, a Copa provocou um outro, imaterial, mas que pode fazer uma boa diferença. 

Trata-se da medida provisória enviada por Dilma e aprovada pelo Congresso (entrará em vigor em abril deste ano), que limita o tempo de mandato de dirigentes esportivos.

A lei ainda obrigará as entidades (não apenas de futebol) a fazer o que nunca fizeram: prestar contas, em meios eletrônicos, sobre dados econômicos e financeiros, contratos, patrocínios, direitos de imagem e outros aspectos de gestão. Os atletas também terão direito a voto e participação na direção. Seria bom se o aclamado Barcelona, de Neymar, fizesse o mesmo.

Estresse de 2013 virou o jogo contra a Copa

Foi o estresse de 2013 que virou o jogo contra a Copa. Principalmente quando aos protestos se misturaram os críticos mascarados e os descarados.

Os mascarados acompanharam os protestos de perto e neles pegaram carona, quebrando e botando fogo. Os descarados ficaram bem de longe, noticiando o que não viam e nem ouviam; dando cartaz ao que não tinha cartaz; fingindo dublar a “voz das ruas”, enquanto as ruas hostilizavam as emissoras, os jornalões, as revistinhas e até as coitadas das bancas.

O fato é que um sentimento estranho tomou conta dos brasileiros. Diferentemente de outras copas, o que mais as pessoas querem hoje saber não é a data dos jogos, nem os grupos, nem a escalação dos times de cada seleção.  

A maioria quer saber se o país irá funcionar bem e se terá paz durante a competição. Estranho. 

É quase um termômetro, ou um teste do grau de envenenamento a que uma pessoa está acometida. Pergunte a alguém sobre a Copa e ouça se ela fala dos jogos ou de algo que tenha a ver com medo. Assim se descobre se ela está empolgada ou se sentou em uma flecha envenenada deixada por um profeta do apocalipse.

Todo mundo em pânico: esse filme de comédia a gente já viu

Funciona assim: os profetas do pânico rogam uma praga e marcam a data para a tragédia acontecer. E esperam para ver o que acontece. Se algo “previsto” não acontece, não tem problema. A intenção era só disseminar o pânico e o baixo astral mesmo.

O que diziam os profetas do pânico sobre o Brasil em 2013?  Entre outras coisas:

Que estávamos à beira de um sério apagão elétrico.

Que o Brasil não conseguiria cumprir sua meta de inflação e nem de superávit primário.

Que o preço dos alimentos estava fora de controle.

Que não se conseguiria aprontar todos os estádios para a Copa das Confederações.

O apagão não veio e as termelétricas foram desligadas antes do previsto. A inflação ficou dentro da meta. A inflação de alimentos retrocedeu. Todos os estádios previstos para a Copa das Confederações foram entregues.

Essas foram as profecias de 2013. Todas furadas.

Cada ano tem suas previsões malditas mais badaladas. Em 2007 e 2008, a mesma turma do pânico dizia que o Brasil estava tendo uma grande epidemia de febre amarela. Acabou morrendo mais gente de overdose de vacina do que de febre amarela, graças aos profetas do pânico.

Em 2009 e 2010, os agourentos diziam que o Brasil não estava preparado para enfrentar a gripe aviária e nem a gripe “suína”, o H1N1. Segundo esses especialistas em catástrofes, os brasileiros não tinham competência nem estrutura para lidar com um problema daquele tamanho. Soa parecido com o discurso anticopa, não?

O cataclismo do H1N1 seria gravíssimo. Os videntes falavam aos quatro cantos que não se poderia pegar ônibus, metrô ou trem, tal o contágio. Não se poderia ir à escola, ao trabalho, ao supermercado. Resultado? Não houve epidemia de coisa alguma.

Mas os profetas do pânico não se dão por vencidos. Eles são insistentes (e chatos também). Quando uma de suas profecias furadas não acontece, eles simplesmente adiam a data do juízo final, ou trocam de praga.

Agora, atenção todos, o próximo fim do mundo é a Copa. “Imagina na Copa” é o slogan. E há muita gente boa que não só reproduz tal slogan como perde seu tempo e sua paciência acreditando nisso, pela enésima vez. 

Para enfrentar o pessoal que é ruim da cabeça ou doente do pé

O pânico é a bomba criada pelos covardes e pulhas para abater os incautos, os ingênuos e os desinformados.

Só existe um antídoto para se enfrentar os profetas do pânico. É combater a desinformação com dados, argumentos e, sobretudo, bom senso, a principal vítima da campanha contra a Copa.

Informação é para ser usada. É para se fazer o enfrentamento do debate. Na escola, no trabalho, na família, na mesa de bar.

É preciso que cada um seja mais veemente, mais incisivo e mais altivo que os profetas do pânico. Eles gostam de falar grosso? Vamos ver como se comportam se forem jogados contra a parede, desmascarados por uma informação que desmonta sua desinformação.

As pessoas precisam tomar consciência de que deixar uma informação errada e uma opinião maldosa se disseminar é como jogar lixo na rua. 

Deixar envenenar o ambiente não é um bom caminho para melhorar o país.

A essa altura do campeonato, faltando poucos meses para a abertura do evento, já não se trata mais de Fifa. É do Brasil que estamos falando.

É claro que as informações deste texto só fazem sentido para aqueles para quem as palavras “Brasil” e “brasileiros” significam alguma coisa.

Há quem por aqui nasceu, mas não nutre qualquer sentimento nacional, qualquer brasilidade; sequer acreditam que isso existe. Paciência. São os que pensam diferente que têm que mostrar que isso existe sim.

Ter orgulho do país e torcer para que as coisas deem certo não deve ser confundido com compactuar com as mazelas que persistem e precisam ser superadas. É simplesmente tentar colocar cada coisa em seu lugar.

Uma das maneiras de se colocar as coisas no lugar é desmascarar oportunistas que querem usar da pregação anticopa para atingir objetivos que nunca foram o de melhorar o país.

O pior dessa campanha fúnebre não é a tentativa de se desmoralizar governos, mas a tentativa de desmoralizar o Brasil.

É preciso enfrentar, confrontar e vencer esse debate. É preciso mostrar que esse pessoal que é profeta do pânico é ruim da cabeça ou doente do pé.

(*) Antonio Lassance é doutor em Ciência Política e torcedor da Seleção Brasileira de Futebol desde sempre.

Mais sobre o assunto:

Controladoria Geral da União atualiza a planilha com todos os gastos previstos para a Copa, os já realizados e os por realizar, em seu portal:


Os dados do orçamento da União estão disponíveis na proposta orçamentária enviada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso.  

O “Best in Travel 2014”, da Lonely Planet, pode ser conferido aqui.

Sobre copa e anticopa, vale a pena ler o texto do Flávio Aguiar, “Copa e anti-copa”, aqui na Carta Maior: 

Sobre o catastrofismo, também do Flávio Aguiar: “Reveses e contrariedades para a direita”, na Carta Maior.

Sobre os protestos de junho e a estratégia da mídia, leiam o texto do prof. Emir Sader, "Primeiras reflexões".

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O passeio socrático de Frei Betto em nossos dias de retorno do fascismo e racismo em Shopping Centers


Frei Betto



  Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?

  Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”

  A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

   Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

  Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

  A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

   Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento  globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

  Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”


Frei Betto é escritor, autor do romance “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Neoliberalismo: tempos de corrupção e ataque à vida, à natureza, às culturas bem como de estimulação ao racismo e ao fascismo...





Carlos Antonio Fragoso Guimarães
  O documentário canadense “A Corporação”, de Mark Achbar, produzido em 2003 (e que pode ser visto acima), faz um estudo da história e princípios competitivos que dirigem e orientam  as grandes corporações, empresas multinacionais. O filme desenvolve a história do surgimento dessas empresas, a partir da revolução industrial, destacando a mudança de paradigma na economia e o impacto nas relações sociais, nas formas das relações interpessoais e do homem consigo mesmo e com seu entorno físico, ambiental e humano. O documentário apresenta imagens, gráficos e entrevistas com renomadas personalidades de diversas áreas, desde o filósofo e linguista Noam Chomsky ao cineasta e crítico social Michael Moore, formando uma obra bem estruturada na análise crítica das corporações.
  Tratada como pessoa jurídica, uma ficção que dá à empresas direitos especiais próprios das pessoas reais, como se a empresa fosse um ser vivo ou um Leviatã que, enfim, destrói outros seres vivos, uma corporação só existe por ser formada pela associação de pessoas que visam, acima de tudo, o lucro para o negócio em que trabalham e, consequentemente, para seus proprietários. Adotam elas uma postura de racionalidade em que o atingimento das metas lucrativas devem ser obtidas acima de regras morais, utilizando-se de todos os meios possíveis, incluindo os menos éticos.  De fato, ao serem pressionadas a "vestirem a camisa da empresa", em especial das mais competitivas, os empregados e, mais ainda, os funcionários mais graduados adotam, no contexto da corporação, atitudes que nem sempre expressam em meio à sociedade civil, ou entre seus outros núcleos sociais, como família, igreja, associações recreativas. 
  Aos poucos, na prática, o comportamento das corporações, em grande parte devido ao poder econômico das mesmas, acaba por influenciar o comportamento dos atores políticos e o sistema público de governo, beneficiando o modelo competitivo-exploratório e dirimindo o bem-estar social e ambiental.
  É ao destacar essa influência que o documentário apresenta uma interessante comparação entre o normal e o patológico. Traçando-se um diagnóstico de personalidade  entre as "pessoas" jurídicas e as pessoas reais, acaba-se por perceber que aquilo que um indivíduo faz de negativo, e que é reprovado e reprimido pela sociedade, constitui regra e um traço distintivo para a corporação, especialmente as maiores: a psicopatia. Os principais sintomas desta são: falta de responsabilidade social; incapacidade de avaliar impactos negativos em pessoas e seres vivos; impossibilidade de assumir culpa; despreocupação com consequencias futuras; egoísmo, etc. 
  Em princípio, e de acordo com a lei e doutrina das "pessoas jurídicas", as empresas teriam os mesmos direitos e responsabilidade dos indivíduos reais, inclusive o de processar e serem processadas. Na prática, contudo, elas mais se enchem de direitos e da capacidade de processar do que possuir reais deveres de responsabilidade social e de serem processadas Existe, então, uma larga diferença entre os indivíduos reais e as corporações: a ficção se torna mais real que o real por esta possuir grande poder econômico e, portanto, político.
 Alguns dos males que o grande empresariado capitalista produz no nosso mundo e que são destacados pelo documentário de Mark Achbar:
- Banalização e desqualificação dos empregados: corte de vagas, fim dos sindicatos, pressão para a retirada de direitos trabalhistas.
- Mal à saúde humana: trabalho repetitivo e mecanicista, produção de produtos perigosos e químico sintéticos, lixo tóxico, poluição, assédio moral, ameaças.
- Mal aos animais: destruição dos habitats, fazendas industrializadas, vivissecções, experiências com animais.
- Mal à biosfera: devastação florestal, emissões de CO2, lixo nuclear.
 O documentário apresenta também questões mais fluidas que, embora menos concretas, exercem grande influência no modo de pensar e agir das pessoas,  como é o caso da propaganda direta e indireta e o poder da mídia mercantil, que incita um estilo de vida: o consumismo, característica trivial da sociedade atual. O papel tendencioso de grandes conglomerados midiáticos, eles mesmo corporações como, no Brasil, é exemplificado pela a Rede Globo e a Revista Veja da Editora Abril, são bem discutidos 

  São discutidas também o maléfico impacto da exploração de recursos físicos e humanos e as questões ambientais pela ânsia competitiva e lucrativa das empresas, concluindo que os sistemas de vida no planeta estão em declínio e que este processo é impedido de ser discutido devido a um único processo de influenciação empresa-estado, como nas ligações históricas entre tiranias e corporações, como a Alemanha nazista com a IBM ( que tanto a IBM quanto o governo dos EUA tentam maquiar ). A partir disso, discute-se a relação entre a política e governos e as corporações, como isto promove a corrupção e de como o governo perdeu o controle das corporações, já que agora elas são mundiais, e como ainda assim ele faz acordos com essas empresas, ou como as campanhas políticas são maciçamente financiadas por corporações para que o quadro político e legal atenda aos seus interesses  – e sobre a chamada responsabilidade social das empresas, caracterizada no documentário como o discurso do momento.
  Ao final, o filme aborda questão da democracia e participação da sociedade civil nas mudanças do modelo atual de desenvolvimento, cobrando transparência, prestação de contas e uma transformação efetiva. Exemplos disto são mostrados na América Latina e em outros lugares do mundo.
  Sobre esse mesmo assunto, segue um texto recente de Leonardo Boff

O Tempo da Grande Transformação e da Corrupção Geral


Normalmente as sociedade se assentam sobre o seguinte tripé: na economia que garante a base material da vida  humana para que seja boa e decente; na política pela qual se distribui o poder e se montam as instituições que fazem funcionar a convivência social; a ética que estabelece os valores e normas que regem os comportamentos humanos para que haja justiça e paz e que se resolvam os conflitos sem recurso à violência. Geralmente a ética vem acompanhada por uma aura espiritual que responde pelo sentido último da vida e do universo, exigências sempre presentes na agenda humana.
Estas instâncias se entrelaçam numa sociedade funcional, mas sempre nesta ordem: a economia obedece a política e a política se submete àética.
Mas a partir da revolução industrial no século XIX, precisamente, a partir de 1834, a economia começou na Inglaterra a se descolar da política e a soterrar a ética. Surgiu uma economia de mercado de forma que todo o sistema econômico fosse dirigido e controlado  apenas pelo mercado livre de qualquer controle  ou de um limite ético.
A marca registrada deste mercado não é a cooperação mas a competição, que vai além da economia e impregna todas a relaçõe humanas. Mais ainda criou-se, no dizer de Karl Polanyi, ”um  novo credo totalmente materialista que acreditava que todos os problemas poderiam ser resolvidos por uma quantidade ilimitda de bens materiais”(A Grande Transformação, Campus 2000, p. 58). Esse credo é ainda hoje assumido com fervor religioso pela maioria doseconomistas do sistema imperante e, em geral, pelas políticas públicas.
A  partir de agora, a  economia funcionará como o único eixo articulador de todas as instâncias sociais. Tudo passará pela economia, concretamente, pelo PIB. Quem estudou em detalhe esse processo foi o filósofo e historiador da economia já referido, Karl Polanyi (1866-1964),  de ascendência húngara e judia e mais tarde convertido ao cristianismo de vertente calvinista. Nascido em Viena, atuou na Inglaterra e depois, sob a pressão macarthista, entre o Toronto no   Canadá e a Universidade de Columbia nos USA. Ele demonstrou que “em vez de a economia estar embutida nas relações sociais, são as relações sociais que estão embutidas no sistema econômico”(p. 77). Então ocorreu o que ele chamou A Grande Transformação: de uma economia de mercado se passou a uma sociedade de mercado.
Em consequência nasceu um novo sistema social, nunca anteshavido, onde a sociedade não existe, apenas os indivíduos competindo entre si, coisa que Reagan e Thatscher irão repetir à saciedade. Tudo mudou pois tudo, tudo mesmo, vira mercadoria. Qualquer bem será levado ao mercado para ser negociado em vista do lucro individual: produtos naturais, manufaturados, coisas sagradas ligadas diretamente à vida como água potável, sementes, solos, órgãos humanos. Polanyi não deixa de anotar que tudo isso é “contrário à substância humana e natural das socidades”. Mas foi o que triunfou especialmente no após-guerra. O mercado é “um elemento útil, mas subordinado à uma comunidade democrática” diz Polanyi. O pensador está na base  da “democracia econômica”.
Aqui  cabe recordar as palavras proféticas de Karl Marx em 1847 Na miséria da filosofia: ”Chegou, enfim, um tempo em que tudo o que os homens haviam considerado inalienável se tornou objeto de troca, de tráfico e podia vender-se. O tempo em que as próprias coisas que até então eram co-participadas mas jamais trocadas; dadas, mas jamais vendidas; adquiridas mas jamais compradas – virtude, amor, opinião, ciência, consciência etc –em que tudo passou para o comércio. O tempo da corrupção geral, da venalidade universal ou, para falar em termos de economia política, o tempo em que qualquer coisa, moral ou física, uma vez tornada valor venal é levada ao mercado para receber um preço, no  seu mais justo valor”..
Os efeitos socioambientais desastrosos dessa mercantilização de tudo, os estamos sentindo hoje pelo caos ecológico da Terra. Temos que repensar o lugar da economia no conjunto da vida humana, especialmente face aos limites da Terra. O individualismo mais feroz, a acumulação obsessiva e ilimitada  enfraquece aqueles valores sem os quais nenhuma sociedade pode se considerar humana: a cooperação, o cuidado de uns para com os outros, o amor e a veneração pela Mãe Terra e a escuta da consciência que nos incita  para bem de todos.
Quando uma sociedade se entorpeceu como a nossa e por seu crasso materialismo se fez incapaz de sentir o outro como outro, somente enquanto eventual produtor e consumidor, ela está cavando seu próprio abismo. O que disse Chomski há dias na Grécia (22/12/2013) vale como um alerta:”aqueles que lideram a corrida para o precipício são as sociedades mais ricas e poderosas, com vantagens incomparáveis como os USA e o Canadá. Esta é a louca racionalidade da ‘democracia capitalista’ realmente existente.”
Agora cabe a retorção ao There is no Alternative (TINA): Não há alternativa: ou mudamos ou pereceremos porque os nossos bens materiais não nos salvarão. É o preço letal por termos entregue nosso destino à ditadura da economia transformada num “deus salvador” de todos os problemas.
Com o economista e educadorMarcos Arruda escrevemos Globalização:desafios socioeconômicos, éticos e educacionais,Vozes 2001.