sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Algumas reflexões sobre a prova do Enem 2015





quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Eduardo Cunha: o criador de monstros. Artigo de Luiz Ruffato publicado do El Pais


Cunha é fruto de um sistema político podre, engendrado pela mentalidade nacional cínica.

COLUNA

Eduardo Cunha: o criador de monstros

Cunha é fruto de um sistema político podre, engendrado pela mentalidade nacional cínica



O presidente da Câmara Eduardo Cunha. / FERNANDO BIZERRA JR. (EFE)
O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vive uma situação bastante inusitada – e estranhamente confortável. Embora existam evidências concretas de que mantém contas secretas na Suíça, alimentadas por propinas amealhadas no esquema de corrupção da Petrobras, a ninguém interessa seu impedimento – nem ao governo, que passando por cima de questões éticas e morais, negocia de forma escandalosa a sobrevivência da presidente Dilma Rousseff, nem à oposição, que da mesma maneira, mas por razões contrárias, imagina-o um aliado contra o PT. A este ponto chegamos no Brasil: não há mais amigos, parentes, companheiros, seguidores, correligionários, apenas cúmplices.
O mais assustador é constatar que Eduardo Cunha é fruto de um sistema político podre, engendrado pela mentalidade nacional cínica, predatória e egoísta, da qual compartilhamos todos, por ignorância, omissão ou interesse. Hipocritamente conservador, Cunha, falando em nome de Deus, ergue bandeiras contra direitos elementares dos homossexuais e das mulheres e a favor dos fabricantes de armas. Discurso que repetem mesmo aqueles que torcem o nariz para o deputado, pois a maior parte da população refuta o aborto, odeia os gays e acredita que a solução para a violência urbana é cada um possuir seu próprio equipamento de defesa pessoal. Portanto, Cunha representa a opinião média do brasileiro e não só, como apontam alguns, mergulhados no preconceito, a visão de gente pobre e evangélica, responsável nas últimas eleições pela maioria dos 230.000 votos obtidos por ele em um dos estados mais progressistas da nação, o Rio de Janeiro.
Vale a pena repassar a carreira política de Eduardo Cunha, pois trata-se de uma trajetória emblemática. Economista, o jovem executivo tornou-se, em 1989, tesoureiro estadual da campanha de Fernando Collor à Presidência da República, a convite de Paulo César Farias, de triste memória. Como recompensa pelo seu desempenho, ganhou a presidência da Telerj, estatal de telecomunicações, onde teve seu nome envolvido em um escândalo durante o processo de implementação da telefonia celular no estado. No exercício do cargo, prestou um favor a Francisco Silva, dono da rádio Melodia, líder de audiência entre os evangélicos, arrumando-lhe uma linha telefônica, coisa raríssima na época.
Como uma mão lava a outra, em 1993, após ser exonerado pelo presidente Itamar Franco, Cunha tornou-se protegido de Francisco Silva. Empresário que fez fortuna produzindo um remédio popularíssimo chamado Atalaia Jurubeba, que promete combater os males do fígado, Silva, por sua vez, era aliado de Anthony Garotinho. Em 1998, Cunha lançou sua candidatura a deputado estadual, sem sucesso. Garotinho, no entanto, ganhou as eleições para o governo do estado e nomeou Silva seu secretário de Habitação – e este, por sua vez, colocou o pupilo como seu auxiliar direto.
Com a extinção da secretaria e sua transformação em Companhia Estadual de Habitação, Cunha assumiu a presidência da empresa em 1999, tendo sido afastado seis meses depois, por denúncias de irregularidades em contratos sem licitação. Ainda apoiado por Garotinho, em 2002 elegeu-se deputado federal, com mais de 100.000 votos. Reeleito desde então, com votações cada vez mais expressivas, no ano passado apresentou queixa-crime junto ao Supremo Tribunal Federal contra seu ex-aliado Anthony Garotinho que o chamou de “deputado-lobista”. Agora, além do processo criminal que corre na Suíça, por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro, Cunha enfrenta denúncia no STF oferecida pela Procuradoria-Geral da República dentro das investigações da Operação Lava-Jato.
Duzentos anos atrás, os amigos Lord Byron e Percy Bysshe Shelley, acompanhados da mulher deste, Mary, foram veranear às margens do lago Léman, na Suíça. Entediados, propuseram-se a matar o tempo escrevendo uma história de terror – brincadeira logo esquecida pelos poetas, mas não por Mary que, com 19 anos, idealizou a narrativa de um jovem médico que resolve insuflar vida em um cadáver. Todos conhecemos a história de Victor Frankenstein e sua abominável criação. Rejeitado, o monstro comete alguns crimes contra pessoas amadas por seu criador, até dar-se conta de sua enorme maldade e sumir na imensidão gelada do Polo Norte.
Na ficção imaginada por Mary Shelley, o doutor Frankenstein se recusa a criar uma fêmea para o monstro, inviabilizando assim sua reprodução. No Brasil, o Estado, concebido para perpetuar a injustiça, a ignorância, a impunidade, se encarrega de ele mesmo criar os monstros e alimentá-los. Reportagem de Gil Alessi, publicada aqui no El Pais em 12 de outubro, revela que dos 11 deputados que formam a mesa diretora da Câmara dos Deputados, e que, portanto, encontram-se na linha direta de sucessão de Eduardo Cunha, oito respondem a processos ou já têm condenação na Justiça. Cabe lembrar, por último, que todos os políticos – sejam vereadores, prefeitos, governadores, deputados estaduais ou federais, senadores ou presidentes da República – são eleitos com nosso voto e representam, aceitemos ou não, o caráter do brasileiro.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O Caso Vlademir Herzog: Um momento para não esquecer


    "Nesta era das gigantescas redes e vastos compartilhamentos não estamos conseguindo aquele mínimo de convergências para distinguir as sutilezas do mal. Pior: estamos sozinhos, cada um por si. A intensidade da comunicação não forma – ao contrário deforma — comunhões e comunidades. O mundo globalizado é na realidade, um tecido de solidões." - Alberto Dines


MARCHA DO TEMPO > O CASO HERZOG

Um momento para não esquecer

Por Alberto Dines em 25/10/2015 na edição 873 do Observatório da Imprensa
A ditadura militar começou a desabar com um ato ecumênico, verdadeiramente espiritual, celebrado na Sé de São Paulo em memória do jornalista Vlado Herzog e em protesto contra o seu assassinato dias antes nos cárceres do DOI-CODI local.
Hoje, 25 de outubro, no mesmo templo paulistano, exatos quarenta anos depois, novo culto inter-religioso desta vez para evocar aquele momento único de congraçamento humano e resistência à brutalidade.
O tempo decorrido não nos deixa mais tranquilos: fantasmas com outras roupagens substituíram os de então, novas perversidades articulam-se ostensivamente em diferentes recantos do planeta. Desatentos, tomados por estranhas derivações estamos permitindo que o país se dissolva no ódio. As certezas então produzidas pela unidade e pela solidariedade, apenas quatro décadas depois parecem irremediavelmente desfeitas.
Nesta era das gigantescas redes e vastos compartilhamentos não estamos conseguindo aquele mínimo de convergências para distinguir as sutilezas do mal. Pior: estamos sozinhos, cada um por si. A intensidade da comunicação não forma – ao contrário deforma — comunhões e comunidades. O mundo globalizado é na realidade, um tecido de solidões.
As próprias religiões estão sendo torpemente usadas para difundir desconfianças e fragmentações. O boato espalhado pela imprensa italiana sobre o tumor no cérebro do papa Francisco é uma clara manobra para desqualificar suas arrojadas tentativas de agregar, incluir, aproximar tanto na esfera dos costumes como na política.
A gigantesca e inacreditável lorota proposta pelo premiê israelense, Bibi Netanyahu — aliás filho de um eminente historiador — sobre a suposta origem palestina do projeto nazista de extermínio dos judeus na Segunda Guerra Mundial dá uma ideia da paranoia que domina os setores xenófobos da sociedade israelense. O negacionismo do Holocausto no qual os aiatolás iranianos estão engajados, jamais fabricou tão execrável disparate, inédita dessacralização do martírio dos seis milhões de vítimas do ódio racial.
Onde poderia o bilionário norte-americano Donald Trump encontrar inspiração para formatar sua jurássica plataforma política senão entre as seitas fundamentalistas dos EUA?
Com a credibilidade reduzida a pó e um pé no primeiro degrau do patíbulo o deputado Eduardo Cunha (até o momento, presidente da Câmara Federal), tenta desesperadamente armar uma base de apoio, por isso recorre com evidente desespero aos correligionários evangélicos. O projeto de sua autoria que fez aprovar há dias na Comissão de Constituição e Justiça torna quase impossível o aborto em caso de estupro apesar de garantido pela legislação. De uma perversidade medieval, torna o poder público um algoz, cumplice da maternidade precoce, incubadora de uma geração de menores abandonados que logo irão reforçar a delinquência.
Eduardo Cunha é o clássico caçador de bruxas, modelado pelo farisaísmo, a hipocrisia, servo de duas moralidades quando se trata do erário e de bens públicos, dos quais deveria ser guardião, não tem qualquer escrúpulo em apropriar-se. Mente descaradamente sem importar-se com a sua responsabilidade de guardião da fé pública.
Eduardo Cunha saiu do armário para nos lembrar que os fundamentos ideológicos e morais da brutalidade do regime militar permanecem intactos.
 Por que Cunha só faz declarações andando e apressado?
O mais cínico e assíduo dos entrevistados da cena política neste ano, Eduardo Cunha consegue passar incólume pelos diversos encontros diários com os repórteres que cobrem a Câmara Federal graças a um estratagema e uma desfaçatez que ultrapassam de longe a “cara-de-pau” de Paulo Maluf, até há poucos anos o indiscutível campeão na modalidade.
Cunha não se nega a falar, parece disponível, mas nunca recebe os repórteres parado. Procura sempre dar a impressão de que tem pressa, assuntos urgentes e transcendentais o convocam. Responde andando, rápido, sem olhar o repórter, inferiorizando-o e abatendo qualquer tentativa de réplica ou contestação das contumazes mentiras.
O comité de imprensa da Câmara deveria protestar, isso não é maneira de oferecer explicações à sociedade. E se o esperto deputado insistir na manha existem muitos recursos para sossega-lo.
***
Alberto Dines é jornalista, escritor e fundador do Observatório da Imprensa

Ato na Sé marca 40 anos do assassinato de Herzog



Veja também:


sábado, 24 de outubro de 2015

Conversar com um Fascista: um desafio. Texto do juiz de direito Rubens Casara



texto de Rubens Casara, Doutor em Direito, Mestre em Ciências Penais, Juiz de Direito do TJ/RJ

Fonte: Justificando

Em Adorno, a ignorância, a ausência de reflexão, a identificação de inimigos imaginários, a transformação dos acusadores em julgadores (e vice-versa) e a manipulação do discurso religioso são, dentre outros sintomas, apontados como típicos do pensamento autoritário.

Pensem, agora, na naturalização com que direitos fundamentais são afastados e violados no Brasil, na crença no uso da força (e do sistema penal) para resolver os mais variados problemas sociais, na demonização de um partido político (que, apesar de vários erros, e ao contrário de outros partidos apontados como “democráticos”, não aderiu aos projetos a seguir descritos), no prestígio novamente atribuído aos “juízes-inquisidores”, nos recentes linchamentos (inclusive virtuais), no número tanto de pessoas mortas por ação da polícia quanto de policiais mortos e nos projetos legislativos que: a) relativizam a presunção de inocência; b) ampliam as hipóteses de “prisão em flagrante” em evidente violação aos limites semânticos da palavra “flagrante” inscrita no texto Constitucional como limite ao exercício do poder; c) criminalizam os movimentos sociais com a desculpa de prevenir “atos de terrorismo”; d)  impedem o fornecimento de “pílulas do dia seguinte” para profilaxia de gravidez decorrente de violência sexual e criminalizam médicos que dão informações para mulheres vítimas de violência sexual; e) eliminam o princípio constitucional da gratuidade na educação pública, dentre outras aberrações jurídicas. Conclusão? Avança-se na escala do fascismo.

O fascismo recebeu seu nome na Itália, mas Mussolini nunca esteve sozinho. Diversos movimentos semelhantes surgiram no pós-guerra com a mesma receita que unia voluntarismo, pouca reflexão e violência contra seus inimigos. Hoje, parece que há consenso de que existe(m) fascismo(s) para além do fenômeno italiano ou, ainda, que o fascismo é um amálgama de significantes, um “patrimônio” de teorias, valores, princípios, estratégias e práticas à disposição dos governantes ou de lideranças de ocasião (que podem, por exemplo, ser fabricadas pelos detentores do poder político ou econômico, em especial através dos meios de comunicação de massa), que disseminam o ódio contra o que existe para conquistar o poder e/ou impor suas concepções de mundo.

O fascismo possui inegavelmente uma ideologia: uma ideologia de negação. Nega-se tudo (as diferenças, as qualidades dos opositores, as conquistas históricas, a luta de classes, etc.), principalmente, o conhecimento e, em consequência, o diálogo capaz de superar a ausência de saber.

 Os fascistas, como já foi dito, talvez não saibam o que querem, mas sabem bem o que não suportam. Não suportam a democracia, entendida como concretização dos direitos fundamentais de todos, como processo de educação para a liberdade e de limites ao exercício do poder. Essa mistura de pouca reflexão (o fascismo, nesse particular, aproxima-se dos fundamentalismos, ambos marcados pela ode à ignorância) e recurso à força (como resposta preferencial para os mais variados problemas sociais) produz reflexos em toda a sociedade.

As práticas fascistas revelam uma desconfiança. O fascista desconfia do conhecimento, tem ódio de quem demonstra saber algo que afronte ou se revele capaz de abalar suas crenças. Ignorância e confusão pautam sua postura na sociedade. O recurso a crenças irracionais ou anti-racionais, a criação de inimigos imaginários (a transformação do “diferente” em inimigo), a confusão entre acusação e julgamento (o acusador – aquele indivíduo que aponta o dedo e atribui responsabilidade – que se transforma em juiz e o juiz que se torna acusador – o inquisidor pós-moderno) são sintomas do fascismo que poderiam ser superados se o sujeito estivesse aberto ao saber, ao diálogo que revela diversos saberes.

Diante dos riscos do fascismo, o desafio é confrontar o fascista com aquilo que para ele é insuportável: o outro. O instrumento? O diálogo, na melhor tradição filosófica atribuída a Sócrates. Talvez esse seja o objetivo do diálogo proposto pela filósofa Marcia Tiburi em seu novo livro, que tive o prazer de apresentar (o prefácio é do sempre excelente Jean Wyllys).

Em "Como conversar com um fascista: reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro" (Rio de janeiro: Saraiva, 2015), a autora resgata a política como experiência de linguagem, sempre presente na vida em comum, e investe nessa operação, que exige o encontro entre o “eu” e o “tu”, apresentada como fundamental à construção democrática. De fato, a qualidade e a própria existência da forma democrática dependem da abertura ao diálogo, da construção de diálogos genuínos – que não se confundem com monólogos travestidos de diálogos – em que a individualidade e os interesses de cada pessoa não inviabilizam a construção de um projeto comum, de uma comunidade fundada na reciprocidade e no respeito à alteridade.

Ao tratar da personalidade autoritária, dos micro-fascismos do dia-a-dia, do consumismo da linguagem, da transformação de pessoas em objetos, da plastificação das relações, da idiotização de parcela da população, dentre outros fenômenos perceptíveis na sociedade brasileira, Marcia Tiburi sugere uma mudança de atitude do um-para-com-o-outro.

Nos diversos ensaios deste livro, a autora conduz o leitor para um processo de reflexão e descoberta dos valores democráticos, bem como desvela as contradições, os preconceitos e as práticas que caracterizam os movimentos autoritários em plena democracia formal.

 Mas, não é só.

Ao propor que a experiência dialógica alcance também os fascistas, aqueles que se recusam a perceber e aceitar o outro em sua totalidade, Marcia Tiburi exerce a arte de resistir. Dialogar com um fascista, e sobre o fascismo, forçar uma relação com um sujeito incapaz de suportar a diferença inerente ao diálogo, é um ato de resistência. Confrontar o fascista, desvelar sua ignorância, fornecer informação/conhecimento, levar esse interlocutor à contradição, desconstruindo suas certezas, forçando-o a admitir que seu conhecimento é limitado, fazem parte do empreendimento ético-político da autora,  que faz neste livro uma aposta na potência do diálogo e na difusão do conhecimento como antídoto à tradição autoritária que condiciona o pensamento e a ação em terra brasilis. O leitor, ao final, perceberá que não só o objetivo foi alcançado como também que a autora nos brindou com um texto delicioso, original, profundo sem ser pretensioso. Mais do que recomendada a leitura.

Aproveito para convidar a todos/todas para os lançamentos já confirmados:

05/11 – Rio de Janeiro. Local: Travessa do Leblon.

10/11 – São Paulo. Local:  Espaço Revista Cult.

23/11- Belo Horizonte. Local: Sempre um Papo.

Rubens Casara é Doutor em Direito, Mestre em Ciências Penais, Juiz de Direito do TJ/RJ, Coordenador de Processo Penal da EMERJ e escreve a Coluna ContraCorrentes, aos sábados, com Giane Alvares, Marcelo Semer, Marcio Sotelo Felippe e Patrick Mariano.

Todas as explicações de Gilberto Chierice sobre a Fosfoetanolamina Sintética , em resposta aos céticos, à poderosa indústria da doença e aos críticos - vídeos



Gilberto Chierice, desde 1990 dedicado à cura do câncer


Seguem, para reflexão, os textos da Redação da Conexão Jornalismo com os respectivos vídeos:

O pesquisador, apontado como o "pai" da Fosfoetanolamina Sintética, concedeu a entrevista a uma emissora do Rio Grande do Sul esta semana. É um depoimento que deve ser ouvido com atenção, por vários motivos.

Em primeiro lugar, pela explicação detalhada que Gilberto Chierice nos dá sobre o funcionamento do composto químico que ele desenvolveu para combater o câncer. Mas também pelas respostas de Gilberto para muitas perguntas que têm sido feitas:

- qual o interesse dele em relação à patente do remédio?

- o quanto as autoridades foram procuradas pela equipe para a realização dos testes que pudessem comprovar a eficácia dos comprimidos?

- que tipos de câncer podem ser vencidos pelo medicamento?

- e como está a mobilização nos bastidores para levar a linha de produção de São Carlos, no interior paulista, para o Rio Grande do Sul ou Paraná?

O depoimento vale também como fonte de inspiração, por ser um exemplo de desprendimento e amor ao próximo. Veja a reportagem mais abaixo:

Embora seja reconhecidamente uma pessoa muito séria em relação ao seu trabalho, durante os 14 minutos da entrevista o veterano cientista também se mostra espirituoso e bem humorado, inclusive diante de perguntas espinhudas e questionamentos delicados.

Ele demonstra franqueza quanto a possíveis poderes milagrosos das cápsulas azuis e brancas. Elas têm, sim, se mostrado muito eficazes. Mas o paciente precisa estar com seu imunológico ativo para que dê resultado:

- O remédio não possui um efeito paliativo, mas sim curativo. Ele não vai melhorar as condições do tumor do paciente. Ou ele extermina ou não. Marcar a célula, a Fosfo vai marcar. Sem sombra de dúvida, não escapa uma que ela não marque.

Gilberto Chierice diz que para ele não faz a menor diferença onde vá ser instalada uma nova linha de produção, para tudo não continuar centrado em São Carlos:

- O ideal seria abrir várias linhas de produção, em diferentes pontos do Brasil - e do mundo. Nós fizemos a nossa parte, agora não depende de nós, depende de médicos e de hospitais. Ou seja, é a fase seguinte, que já não deveria estar nas nossas mãos.

Veja também: Comprovações de que o pesquisador do câncer procurou as autoridades de Saúde - vídeo

O pesquisador admite estar cansado, após 25 anos de luta pela divulgação das propriedades da Fosfoetanolamina. Ele afirma que nunca imaginou que pudessem surgir restrições e empecilhos para a realização de testes com um composto que pode trazer benefícios para milhões de pessoas. Afinal, trata-se de um produto para a humanidade:

- Tanto é que, nesses anos todos, nunca foi cobrado nenhum centavo pelos comprimidos. Nem ninguém nunca financiou nada, quem sempre financiou fui eu. Mas, tudo bem. Eu tenho certeza que agora vai, porque não tem por que não acontecer. É um negócio que é para todo o mundo, não é meu mais. E essa substância, você não pode dar um valor para ela. Porque a vida humana é um negócio muito especial.


A diferença entre as reportagens de Domingo Espetacular e Fantástico sobre a Fosfoetanolamina


As duas reportagens exibidas neste domingo à noite caminharam nitidamente em direções opostas. São ótimas para professores de Jornalismo que queiram mostrar a seus alunos a diferença entre linhas editoriais - escolhas sobre o que será mostrado ao público.
Conflito de interesses - ou não?
Conflito de interesses - ou não?  
Felizmente a Globo já não é hegemônica como antigamente. Porque ela colocou no ar uma matéria 100% contra o remédio, conduzida pelo médico Drauzio Varella, que deu voz a dirigentes da Anvisa e da Sociedade Brasileira de Oncologia.

Nas redes sociais, após a exibição, muitas críticas e referências ao fato de que o Dr. Drauzio é oncologista e dono de uma clínica de quimioterapia.

Já a reportagem da Record optou por ouvir pacientes que usaram os comprimidos. Deu espaço mínimo para os gabinetes e humanizou a história.

Veja as reportagens:





Em sua página no Facebook, um dos integrantes da equipe que desenvolveu a Fosfoetanolamina Sintética, o oncologista Renato Meneguelo, reagiu assim à reportagem da Globo:

Marcos Vinícius de Almeida, outro membro da equipe, também se manifestou nesta segunda-feira:


Também via Facebook, o advogado Dennis Cincinatus, que se tornou referência na esfera judicial em sua defesa do medicamento, foi outro que questionou a Globo ter permitido que Drauzio Varella fosse seu "porta-voz" num assunto de tamanha importância:

-
Veja também: 

Novos depoimentos de quem usou a Fosfo e obteve melhoras e até mesmo a cura do câncer - vídeos

A movimentação nos bastidores para produzir em massa os comprimidos azuis e brancos - vídeo

Especialistas e leigos detonam Drauzio Varella por sua reportagem sobre remédio contra o câncer

Por que Globo, Band, Folha, Época, O Globo e G1 ignoram o Rio Grande do Sul?

O que "diz" o Ministério da Saúde sobre o que acontece em São Carlos e Porto Alegre - vídeos

Deputado Marlon Santos faz apelo veemente a Dilma, mídia e pacientes com câncer - vídeo

Cartaz que começou a circular nas redes sociais neste fim de semana:

Veja também:

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Sujos do bloco de impeachment de mãos dadas com Cunha, viúvas saudosas da ditadura e outros assuntos


 "Eduardo Cunha, como se sabe há meses, há anos, e enfim se resolveu saber, é acusado de ser... Eduardo Cunha. O prontuário suíço rompeu parte do silêncio: desde então já se admite saber o que sempre se soube. Líderes da oposição entrelaçaram mãos com Cunha ao entregar o pedido.  Presentes, alguns daqueles sólidos líderes das ruas se calaram sobre Cunha e contas suíças. Em nova foto para a História, Carlos Sampaio, líder do PSDB, posou à direita de Cunha." - Bob Fernandes


  Segue vídeo com análise (e sua trascrição textual) de Bob Fernandes sobre a hipocrisa da oposição e sua ânsia golpista para retomar ao poder e seguir fazendo as mesmas coisas de sempre...


Bob Fernandes / De mãos dadas com Cunha, bate boca, rumores de quarteis... e o abismo

Novo pedido de impeachment contra Dilma. Sites de jornais falam em 15, 18, 27, 28... pedidos nos 10 meses. Às manchetes chegaram uns 8, 9... Os demais estocavam ventos mais fracos.

O pedido foi entregue a Eduardo Cunha no dia em que editorial do " O Globo" cobrou sua saída da presidência da Câmara.

Eduardo Cunha, como se sabe há meses, há anos, e enfim se resolveu saber, é acusado de ser... Eduardo Cunha.

O prontuário suíço rompeu parte do silêncio: desde então já se admite saber o que sempre se soube.
Líderes da oposição entrelaçaram mãos com Cunha ao entregar o pedido.

Presentes, alguns daqueles sólidos líderes das ruas se calaram sobre Cunha e contas suíças.
Em nova foto para a História, Carlos Sampaio, líder do PSDB, posou à direita de Cunha.

Na foto, Paulinho, da Força e do Solidariedade, réu no Supremo via Lava Jato. Não se percebe nas imagens o presidente do DEM, Agripino Maia, também réu.´

E da Finlândia, a presidente Dilma prosseguiu no bateu boca com Cunha.

Do estoque, que infelizmente não era de vento, Dilma sacou a frase: "Meu governo não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção".

Não há acusação contra a pessoa de Dilma, mas diante dos fatos o fraseado não resiste a uma brisa.
Não se sabe se intencional, ou parte do estoque habitual, a frase remeteu o escândalo Petrobras para... o governo Lula.

No bate-boca, Cunha disse: "Não sabia que a Petrobras não era do governo".

De economia mista, a Petrobras é também do governo... E Eduardo Cunha, como mostraram os suíços, sabe tudo de Petrobras.

...Enquanto tantos duelam à beira do abismo, despertam velhos apetites e murmúrios de quartéis, é então saudável ir à História.

Todo governo tem, teve corrupção. Nas ditaduras, mega escândalos foram acobertados pela censura, compadrio e brutalidade.

Nas democracias, escândalos com crises, com muito barulho, mas com os poderes funcionando. E, como nunca se viu, com julgamento e prisão de grandes empresários e políticos.

Numa ditadura estariam todos, como num tempo que já vivemos, agindo nas sombras, guardados pelo silêncio dos cemitérios.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Cuidar e respeitar o valor intrínseco de cada Ser... texto de Leonardo Boff




A esplêndida encíclica do Papa Francisco “sobre o cuidado da Casa Comum” insiste  continuamente que cada ser, por menor que seja, possui valor intrínseco e tem algo a nos dizer, ademais de estar sempre interconectado com todos os demais seres. Por isso merece respeito e cuidado de nossa parte.
Estes pensamentos nos remetem ao pensador que melhor no Ocidente pensou o ilimitado respeito a tudo o que existe e vive: o médico suíço Albert Schweitzer (1875-1965). Era oriundo da Alsácia. Desde cedo apresentou traços de genialidade. Tornou-se famoso exegeta bíblico com vasta obra especialmente sobre questões ligadas à possibilidade ou não de se fazer uma biografia científica de Jesus. Era também um exímio organista e concertista das obras de Bach e compositor. Foi grande a minha emoção quando visitei a sua casa e o órgão que tocava em Kaysersberg.
Em consequência de seus estudos sobre a mensagem de Jesus, especialmente do Sermão da Montanha, com sua centralidade no pobre e no oprimido, resolveu abandonar tudo e estudar medicina. Em 1913 foi para a África como médico em Lambarene, no atual Gabun, exatamente para aquelas regiões que foram dominadas e exploradas furiosamente pelos colonizadores europeus. Diz explicitamente, numa carta, que “o que precisamos não é enviar para lá missionários que queiram converter os africanos, mas pessoas que se disponham a fazer para os pobres o que deve ser feito, caso o Sermão da Montanha e as palavras de Jesus possuam algum valor. Se o Cristianismo não realizar isso, perdeu seu sentido”.
E continua: “depois de ter refletido muito, isso ficou claro para mim: minha vida não é nem a ciência nem a arte, mas tornar-me um simples ser humano que, no espírito de Jesus, faz alguma coisa, por pequena que seja”(A. SchweitzerWie wir überleben können, 1994 p. 25-26).
Em seu hospital no interior da floresta tropical, entre um atendimento e outro de doentes, tinha tempo para refletir sobre os destinos da cultura e da humanidade. Considerava a falta de uma ética humanitária como a crise maior da cultura moderna. Dedicou anos no estudo das questões éticas que ganharam corpo em vários livros, sendo o principal deles O respeito diante da vida (Ehrfurcht vor dem LebenI edição de 1996).
Tudo em sua ética gira ao redor do respeito, da veneração, da compaixão, da responsabilidade e do cuidado para com todos os seres, especialmente, com aqueles que mais sofrem.
Ponto de partida para Schweitzer é o dado primário de nossa existência, a vontade de viver que se expressa:”Eu sou vida que quer viver no meio de vidas que querem viver”(Wie wir überleben können: 73). À vontade de poder (Wille zur Macht) de Nietzsche, Schweitzer contrapõe a vontade de viver (Wille zum Leben). E continua :”A ideia-chave do bem consiste em conservar a vida, desenvolvê-la e elevá-la ao seu máximo valor; o mal consiste em destruir a vida, prejudicá-la e impedi-la de se desenvolver. Este é o princípio necessário, universal e absoluto da ética”(op. cit. p. 52 e 73).
Para Schweitzer, as éticas vigentes são incompletas porque tratam apenas dos comportamentos dos seres humanos face a outros seres humanos e esquecem de incluir todas as formas de vida que se nos apresentam. O Papa em sua encíclica faz uma rigorosa crítica a este antropocentrismo (nn. 115-121). O respeito que devemos à vida “engloba tudo o que significa amor, doação, compaixão, solidariedade e partilha”(op. cit. 53).
Numa palavra: “a ética é a responsabilidade ilimitada por tudo  que existe e vive” (Wie wir überleben, p. 52 e Was sollen wir tun p. 29).
Como a nossa vida é vida com outras vidas, a ética do respeito à vida deverá ser sempre um con-viver e um con-sofrer (miterleben und miterleiden) com os outros. Numa formulação suscinta afirma :”Tu deves viver convivendo e conservando a vida, este é o maior dos mandamentos na sua forma mais elementar”(Was sollen wir tun?.op. cit. p. 26).
Dai derivam comportamentos de grande compaixão e cuidado. Interpelando cada ouvinte numa homilia conclama: “Mantenha teus olhos abertos para não perder a ocasião de ser um salvador. Não passe ao largo, inconsciente, do pequeno inseto que se debate na água e corre risco de se afogar. Tome um pauzinho e retire-o da água, enxugue-lhe as asinhas e experimente a maravilha de ter salvo uma vida e a felicidade de ter agido a cargo e em nome do Todo-poderoso. O verme que se perdeu na estrada dura e seca e que não pode fazer o seu buraco, retire-o e coloque-o no meio da grama. ‘O que fizerdes a um desses mais pequenos foi a mim que o fizestes’. Esta palavra de Jesus não vale apenas para nós humanos mas também para as mais pequenas das criaturas”(Was sollen wir tunop.cit. p. 55).
A ética do respeito e do cuidado de Albert Schweitzer une inteligência emocional, cordial e inteligência racional, num esforço de tornar a ética um caminho de salvaguarda de todas as coisas e de resgate do valor que elas possuem em si mesmas. O maior inimigo desta ética é o embotamento da sensibilidade, a inconsciência e a ignorância que fazem perder  de vista o dom da existência e a excelência da vida em todas as suas formas.
O ser humano é chamado a ser o guardião de cada ser vivo. Ao realizar esta missão, ele alcança o grau maior de sua humanidade. E se sentirá pertencendo a um Todo maior, superando a falta de enraizamento e a solidão dos filhos da modernidade.
Leonardo Boff é colunista do JB on line teólogo, filósofo e escritor. Fonte do texto: Leonardo Boff.Wordpress