quarta-feira, 1 de março de 2017

A globo, o Fora Temer e a democracia, reflexões do professor da PUC Minas, Dr. Robson Sávio Reis Souza




(134) Rodolfo Buhrer / La Imagem

     Artigo de Robson Sávio Reis Souza

Todos sabemos do papel decisivo das organizações globo no processo de ruptura democrática que resultou na assunção da maior quadrilha de saqueadores do erário, desde Cabral, o original.
Como escreveu o professor Wanderley Guilherme dos Santos, "o que fazer com o sistema globo de comunicação é um dos mais difíceis problemas a solucionar pela futura democracia brasileira. A capacidade de fabricar super-heróis fajutos, triturar reputações e transmitir versões selecionadas e transfiguradas do que acontece no mundo, lhe dá um poder intimidante a que se foram submetendo o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. A referência aos três poderes constitucionais da República resume a extensão do controle que o Sistema Globo detém e exerce implacavelmente, hoje, sobre toda e qualquer organização ou cidadão brasileiro. "
De fato, as organizações globo não satisfeitas com o monopólio da pauta dos três poderes, através da imposição de agendas que definem a ação e/ou reação dessas instâncias, resolveu (a partir de 2014) investir noutra estratégia: como ocorrera com sucesso em 1964, foi feito todo um investimento com vistas a colocar a classe média nas ruas para dar o respaldo ao golpe.
Certos de que pela via eleitoral os históricos capangas da democracia e da cidadania brasileiras, os velhos e os neocoronéis da política tupiniquim, não chegariam ao poder, as organizações globo utilizaram-se da sua emissora, a TV globo, para investir fortemente no aliciamento dos setores conservadores e de direita que comungam dos mesmos interesses, percepções e desejos: uma sociedade de e para poucos. Assim, criariam, mesmo que artificialmente, a justificativa para o sopapo parlamentar-jurídico-empresarial e elitista.
Como fizera em 1964 as Forças Armadas e as elites da Igreja Católica, a globo inicialmente empenhou-se numa ampla campanha para aflorar os sentimentos de medo, ansiedade e inquietação na sociedade; depois, utilizou em doses cavalares do jornalismo para injetar o veneno do ódio contra os segmentos que pleiteiam uma sociedade mais justa e igualitária, encarnados no Partido dos Trabalhadores e nas políticas públicas de ampliação da cidadania implementadas na última década. Com essa estratégia, o braço televisivo das organizações globo conseguiu agregar nas manifestações domingueiras o suprassumo do fascismo nacional: os setores conservadores, ultraconservadores e de mentalidade escravocrata da classe média, as corporações dos filhos dessas elites (principalmente castas dos setores da advocacia, justiça e medicina) e, como sempre acontece nos episódios de manipulação de massas, os bobos da corte ludibriados pela cantilena do combate à corrupção. Emanados em máximas do tipo "primeiro tiramos Dilma, depois...", milhões ocuparam as ruas impulsionados pelas transmissões ao vivo, glamorosas, da emissora oficial do golpe.
Ora, a estratégia de vitaminar as manifestações domingueiras era a cortina de fumaça a ser criada para justificar o golpe parlamentar e sua posterior sacramentalização pela justiça. Era preciso bradar que a sociedade clamava por mudança e que tal mudança significava apear a presidente legítima do poder e entronizar Temer e sua camarilha. Ou seja, o bando desqualificado de larápios no parlamento e os capapretas do Supremo precisariam respaldar o assalto à Constituição pelos "clamores das ruas", como mostrava aos quatro cantos a TV globo.
A máfia platinada percebeu que somente com tal desculpa esfarrapada conseguiria consolidar o bando político no poder.
E é justamente pelo mesmo motivo que nunca, jamais e nem nos sonhos a Tevê globo transmitirá espontaneamente qualquer manifestação popular contra Temer. Afinal, não será a globo que criará as condições a desencadearem manifestações e revoltas populares com vistas a destronar aqueles que a ela servem. Só um idiota não percebe isso...
A globo é a verdadeira saúva que destrói sistematicamente a democracia no Brasil. Desde sua criação, na década de 1960, com o apoio e dinheiro dos Estados Unidos e as bênçãos das elites nacionais, as organizações globo têm como único fundamento servir aos interesses de tais grupos.
O professor Wanderley Guilherme dos Santos aponta uma saída: "O que há a fazer é expropriar politicamente o Sistema Globo de Comunicações, mantendo-o autônomo em relação aos governos eventuais (ou frentes ideológicas de infiltradas sanguessugas autoritárias), e implodir as usinas editoriais e jornalísticas do medo e de catástrofes emocionais, restituindo isenção aos julgamentos de terceiros. "
Poderia ser um caminho...
Mas, é fato que no momento atual, as esquerdas e os setores comprometidos com uma democracia inclusiva devem focar seus esforços no Fora Temer, exigindo novas eleições de imediato e a retomada de uma democracia pelo menos procedimental.
Mas, não nos enganemos: tão importante como eleições diretas para dar legitimidade ao governo, três reformas são fundamentais para desmontar as estruturas que conspiram contra o povo brasileiro: além da evidente reforma do sistema político, uma reforma do sistema de justiça (historicamente comprometido com a Casa Grande) e uma reforma que permita um sistema de comunicação público, com a quebra dos oligopólios midiáticos, principalmente o desmonte da organização que é o maior e mais poderoso perigo à nossa democracia: a globo.





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