quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A morte do professor Cancellier é um sacrifício pelo Brasil, por Ion de Andrade


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GGN.- A morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo da Universidade Federal de Santa Catarina é o ato que traduz toda a brutalidade da ditadura judiciária que se abate hoje sobre o Brasil. Personagem respeitado e querido da comunidade universitária de uma das mais importantes universidades brasileiras, conhecido por sua capacidade de diálogo e de solução de conflitos, o reitor foi alvo, com requintes de perversidade, da sanha fascista que assola o país.
Submetido a humilhações e vexames por ocasião da prisão, o professor Cancellier entendeu, e não por fraqueza, que a sua honra havia sofrido ali um golpe letal. Morreu por excesso de dignidade, num país em que a indignidade virou o modus operandi de muitos juízes e delegados de polícia.
Mas a sua morte deve, por honra a ele, ser entendido como um sacrifício pelo Brasil. A partir dela de novo se descortina o horizonte da resistência democrática onde novos heróis morrem para que saiamos do sono e da letargia.
Porém esse é apenas um lado da questão. O outro lado é que tudo leva a crer que há crime. É imperativa a cobrança às autoridades constituídas da instauração do devido processo legal sobre o abuso de autoridade da juíza e da delegada de polícia envolvidas. Sem base legal, sem sequer ouvi-lo, ofenderam a sua honra por ato não ocorrido sob a sua gestão, e o submeteram a um constrangimento ilegal que ele não suportou, tudo isso contra direitos seus assegurados por uma lei à qual a polícia e a justiça deveriam estar subordinadas.
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes), o Sindicato Nacional de Docentes do Ensino Superior (Andes), a OAB, a UNE, dentre outras entidades não podem permitir que esse crime de abuso de poder fique impune, é o mínimo que se pode fazer por ele. Para essas entidades é hora de mostrar a que servem. Provavelmente num outro país qualquer essas duas autoridades, a juíza e a delegada de polícia, estariam afastadas de suas funções, em respeito às suas instituições, enquanto corresse o devido processo legal. Talvez a justiça conclua, realmente que elas não têm o equilíbrio mental necessário para o desempenho de tarefa tão relevante.
É bem verdade, a exemplo desse caso, que a ditadura atual parte do próprio judiciário. Mas o nosso papel é o de cobrar dessas instituições que cumpram com o seu dever constitucional de processar a juíza e a delegada.
O professor Cancellier sacrificou-se pelo Brasil e a história não o esquecerá. A nós, entretanto, e desde já, cabe dar a esse sacrifício a dimensão que ele tem no cenário da resistência.
Ele tombou no campo de batalha pela democracia e tudo indica que há crime.

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