segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Ex-representante da Interpol e delegado aposentado da Polícia Federal, o advogado Armando Coelho fala do moralismo sem moral do MBL e seguidores



"Tem gente que não quer discutir política, pois é como religião, futebol e gosto. “Isso não se discute”. Por ser tema intocável, quando o alienado se propõe a debater o faz com frases feitas e manipuladas, produzidas pelos meios de comunicação controlados pela elite gananciosa e entreguista. Veio o golpe. Para se consolidar, era preciso cassar palavras, destruir imagens públicas, criar a narrativa do combate à corrupção, que por pouco não deu certo com Mensalão, logo substituído pela hoje agonizante Farsa Jato (cada vez mais farsa). O golpe até hoje não pode ser tratado pelo nome, por que “Tio Sam não aceita mais rupturas fora das constituições”, mesmo que fraudulentas." - Armando Coelho

Moralismo sem moral. O incômodo papel de defender Lula e o PT
por Armando Rodrigues Coelho Neto (no Jornal GGN)
Não se trata de uma partida de futebol. Nela, com visão apaixonada por um determinado time, é quase impossível ver a falta que o juiz viu contra o time pelo qual se torce. Conforme o resultado, o árbitro da partida pode ser visto até como o décimo segundo jogador, um larápio comprado. No mundo dos esportes as paixões cegam, palavrões se multiplicam. Predominam argumentos irracionais que por vezes resvalam agressões e morte. As torcidas organizadas falam por si.
Mas, não se trata de uma partida de futebol. Mas, o jogo Brasil é debatido de forma alienada. Passa pela tosca idéia dos grotões de miséria absoluta, nos quais o ignorante que diz com orgulho: “nunca perdi um voto”, pois deve votar em quem vai vencer, como corrida de cavalo. De outro giro, a decisão do jogo Brasil passa pelo voto oriundo de vícios culturais seculares, fruto do preconceito, perpetuação de riquezas, privilégios, valores elitizados. Passa, sobretudo, pela manipulação desses referenciais, promovida pelos meios de comunicação. Eis o como flui o letárgico jogo tático de 7 x 1 de ricos X pobres.
Chega de metáforas. Tem gente que não quer discutir política, pois é como religião, futebol e gosto. “Isso não se discute”. Por ser tema intocável, quando o alienado se propõe a debater o faz com frases feitas e manipuladas, produzidas pelos meios de comunicação controlados pela elite gananciosa e entreguista.
Veio o golpe. Para se consolidar, era preciso cassar palavras, destruir imagens públicas, criar a narrativa do combate à corrupção, que por pouco não deu certo com Mensalão, logo substituído pela hoje agonizante Farsa Jato (cada vez mais farsa). O golpe até hoje não pode ser tratado pelo nome, por que “Tio Sam não aceita mais rupturas fora das constituições”, mesmo que fraudulentas.
Com razão, disse a legítima Presidenta Dilma Rousseff, não foi um golpe contra ela, nem necessariamente contra o Partido dos Trabalhadores, mas sim contra o povo. O programa aprovado nas urnas foi decapitado e o que está em curso é a destruição de um projeto de pais carente de inclusão social que mal começou e já se esvai. Mais que isso, detonando avanços sociais recentes, retrocedendo em cinqüenta anos e reflexos na Lei Áurea. Como fruto de aniquilação cerebral promovido por Globo e seu rancho, sequer reações se esboçam até sobre questões acima de direita/esquerda, como nacionalismo e dignidade humana.
O resgate de valores morais, o pretenso combate à corrupção e a destruição da classe política se tornaram pontos essenciais. Com a cumplicidade da decadente Suprema Corte (e das Forças Armadas de tradições entreguistas) o golpe se consolidou. Joaquim Barbosa, Sérgio Moro e “o japonês da Federal” assumiram o posto de ídolos, viraram máscaras no Carnaval do Rio de Janeiro e bonecos gigantes no de Olinda. Abençoados pela narrativa moralista, todas as vozes que se levantaram contra passaram a ser tratados como corruptos. Desse modo, eu, que não guardo um centavo roubado, que dediquei parte de minha vida funcional ao aprimoramento do pessoal e da atividade fim da Polícia Federal, passei a ser tratado como marginal. Junto comigo, outros com igual postura.
Eis-me, pois, diante do desafio de não sendo filiado ao Partido dos Trabalhadores, ter que defender uma sigla enlameada, fruto da soma de um trabalho porco realizado por Globo/Veja “et caterva”. Na condição de defensor de corruptos acusados e sentenciados por corruptos. Com o perdão da licença poética, parto do princípio de que corrupção não é só dinheiro. Soa razoável que a corrupção vista única e exclusivamente sob a perspectiva do dinheiro é um conceito capital, mercantilista, no qual o dinheiro tem mais valor que a vida. Por ser conceito venal, é mercadoria e, por ter preço, quem rouba um pouquinho pode não ser ladrão, conforme o preço da sentença. O roubo não provado pode não ser roubo, conforme o preço do juiz, ou a quem ele possa estar servindo.
Receio que a moral de “Moros, Marinhos e Malafaias” esteja contaminada por isso. De qualquer modo, não os reconheço como quem à altura de me desancar de minhas assertivas. Coleciono larápios com discursos prontos em nome da honra, da família, da moralidade, da eficiência, bem público, contra o comunismo, do neto, do cachorro, de torturador já se revelaram canalhas.
Seria necessário chafurdar as vidas de cada canalha que consolidou o golpe? Seria preciso entrar no submundo dos falsos argumentos legais para mostrar a inconsistência moral do golpe? Seria necessário mergulhar nas violações de direitos promovidos pela Farsa Jato? Seria necessário analisar cada vazamento seletivo, cada transmissão via celular de audiência sob sigilo para desmascarar tudo? Terei que descer ao lamaçal dos votos comprados por Temer, das malas e apartamento com dinheiro? Terei que revisitar as tramóias do Pré-Sal noticiadas pelo The Guardian? Recorrer às denúncias contra Rede Globo e àquelas feitas por Tecla Duran para me demonstrar de onde brota minha inquietação cidadã?
Diante do nefasto estigma criado contra o Partido dos Trabalhadores, eis-me, pois, no incômodo papel de advogado do diabo. Defendendo o PT sem ser do partido e solidário com o melhor presidente da história desse País. Ao levar esses questionamentos a um seleto grupo de delegados da Polícia Federal, surgiu uma inspiradora nota, que não me atrevi a editar.
Se por "moralidade" se entende uma situação em que uma governante honesta é impedida de terminar o mandato para não governar para pobres. Se por moralidade se entende que os usurpadores possam rasgar os direitos sociais... Se por moralidade os cidadãos aceitam que magistrados que legitimaram o golpe podem usufruir inconcebíveis privilégios enquanto o salário mínimo é reduzido... Se por moralidade se entende que a vontade eleitoral da maioria do povo brasileiro possa ser interditada por julgamentos casuísticos e julgadores parciais... Que importa que digam que estejamos defendendo corruptos?
Se por moralidade se entende que os recursos do País sejam drenados para os mais ricos através de renúncia fiscal e retrocessos trabalhistas, enquanto se reduzem os investimentos em saúde, educação, saneamento básico, infra-estrutura...  Se por moralidade se entende que as maiores  empresas nacionais sejam impedidas de disputar mercados em prol de concorrentes estrangeiras e que nossas riquezas sejam entregues a preços vis à livre exploração por outras nações... Se por moralidade se entende que seja correto aniquilar o nosso futuro e o de nossa descendência para que velhos corruptos tenham boas comissões em negociatas atuais... Se isso é moralidade... Nós reivindicamos o direito sagrado à imoralidade.
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e foi representante da Interpol em São Paulo

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